O QUE CABE NESTE PALCO 2005
Humanos Demais - uma estréia que é demais pra a cabeça


Sexta-feira acontece a primeira estréia do Projeto O que Cabe Neste Palco 2005. Primeira, porque somente em março são duas. Os espetáculos Humanos Demais e Perfil - só vendo para crer, vindos de Alagoinhas, dividem a pauta do Cabaré dos Novos até o final do mês.

Mas agora vamos falar um pouco mais sobre a primeira estréia, do grupo Macabéicos, formado em Alagoinhas, a partir do encontro entre estudantes da Universidade do Estado da Bahia que tinham em comum a vontade de fazer algo de impacto para que suas reivindicações fossem ouvidas. O meio encontrado por eles foi a realização de performances perturbadoras e irreverentes, que logo chamaram atenção dos colegas, professores e dirigentes da Universidade.
Em 2004, através do contato estabelecido pelo projeto Teatro de Cabo a Rabo, promovido pelo Teatro Vila Velha com patrocínio da COELBA, o grupo teve a oportunidade de se apresentar na capital. Agora, no projeto O que Cabe Neste palco, os Macabéicos consolidam mais uma etapa de sua trajetória.

Através de uma entrevista coletiva com o grupo, que o tempo todo fazia questão de oferecer informações contrastantes, tentamos compreender um pouco melhor o espetáculo:

O que vocês querem dizer com Humanos Demais?

O espetáculo apresenta a alma humana de maneira desestruturada, numa estrutura não-linear. Procuramos mostrar o lado animalesco do ser humano, que as características exacerbadamente humanas aproximam o homem do comportamento animal. Como a busca pelo prazer sem limites pode chegar a extremos perversos.

O espetáculo tem uma característica de performance. Como vocês o descreveriam?

Nós rompemos com o esquema palco x platéia, desconstruímos o ambiente, a ação acontece em meio ao público, com sua participação. Não temos direção, nem script, trabalhamos muito com o improviso. Usamos poesia e música para conduzir o público até o local onde acontece a peça e provocamos sua reação. Temos apenas uma seqüência de quadros que seguimos, mas cada apresentação é um espetáculo diferente.

De onde vêm as referências que servem como base para o espetáculo?

Somos alunos de História e Letras da UNEB (Campus II, em Alagoinhas), entramos para o meio teatral "por acidente". Assim, tudo aquilo que lemos sobre construção de conceitos que se têm como cristalizados nos dá idéias para a encenação. São autores como Foucault, Deleuse, Guattarri, Nietzsche, Onfray e Baudrillard, além de outras leituras bem particulares de cada um de nós, que influenciam o pensamento que nos levou a construir (ou desconstruir) a performance.

Quando começou o interesse dos Macabéicos por fazer teatro?

Começou com a nossa indignação com o descaso da assistência estudantil da UNEB. Os alunos faziam reivindicações, mas não havia resposta. Resolvemos então fazer algo diferente para ganhar visibilidade e sermos ouvidos. Realizamos algumas manifestações irreverentes no campus. Somente a partir do encontro que tivemos no projeto Teatro de Cabo a Rabo nos estruturamos como grupo e fizemos pela primeira vez a performance. A partir desta apresentação foi que veio o texto.

E hoje, qual é o objetivo do grupo?

O que nos move é a diversão. Gostamos de fazer isso e nos divertimos fazendo. Fazemos um trabalho que foge da dogmatização, dos moldes pré-estabelecidos. É ter uma idéia na cabeça e um lugar para apresentar. Usamos o palco para dizer algo que não dissemos de outra forma. Por isso optamos por recolher o "lixo do teatro", coisas preteridas como virar de costas para a platéia e não estabelecer uma marcação espacial e misturar as linhas estéticas mais contrastantes. Temos o niilismo como um dos principais métodos.

Os Macabéicos chamam atenção: nada do que foi dito nesta entrevista explica o espetáculo.

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