PROJETO O QUE CABE NESTE PALCO - ESTRÉIA
Cafezinho

Na praça, na rua, num parque, no ponto de ônibus. Ali perto da escola, na saideira do barzinho. Em qualquer canto da cidade. Um cafezinho. Garrafas térmicas e copinhos levados num carrinho que enche as ruas com a música que vem do rádio ou do cd. Trilha sonora de cenas insólitas, de cenas comuns da vida de tanta gente que passa pelas ruas. Vem daí a inspiração do Sem Companhia de Dança para realizar Cafezinho, que estréia nesta sexta-feira . Nesta entrevista, o grupo conta mais sobre o processo de criação e sua relação com o tema.

Por que Cafezinho?

A idéia para o espetáculo surgiu a partir da observação dos carrinhos ambulantes de café e as situações que acontecem ao seu redor. Cada carrinho parece um mini-trio-elétrico, com aparelho de som potente e até DVD! As músicas que saem deles acabam funcionando como trilha sonora para as mais diversas cenas que acontecem na rua, que fazem parte do cotidiano.

Vocês tomam cafezinho?

(entre risos) Sim, tomamos. Antes e depois dos ensaios, ali no Pelourinho... A gente sempre acaba tomando. Dá energia.

Fizeram algum tipo de laboratório com os vendedores?

Entramos em contato com eles e a cada final de semana, um deles participará do espetáculo, mas a idéia não gira em torno do vendedor. Foi um trabalho de observação mais externo. Trabalhamos com as músicas que eles escutam, que você ouve na rua e re-significa inúmeras situações que se passam nas proximidades.

Como assim?

Todos nós já vimos este tipo de coisa. Às vezes está tocando uma música bem romântica, enquanto acontece uma discussão que beira a violência física. Uma vez, tinha um carrinho tocando uma música zen (!) ao lado de um grupo de motoristas de táxi num daqueles acalorados debates sobre futebol.

Então poderia ser qualquer vendedor ambulante... O que há de particular nos cafezinhos?

Eles são singulares. Em primeiro lugar, vendedores ambulantes de café com esses carrinhos incrementados são encontrados somente aqui em Salvador. Eles não existem em nenhum outro lugar. Eles se movimentam pela cidade, causam uma interferência urbana com seu som potente.

Que tipo de música vocês escolheram e por que?

Escolhemos músicas de diferentes estilos, que marcam essa variedade do "repertório" dos cafezinhos. Um ritmo bem característico deles é o reggae. Eles tocam muito reggae. Mas também tem o romantismo de Roberto Carlos, o arrocha - muito arrocha! - e até Virgínia Rodrigues. Escolhemos também uma música mais pesada, uma punk-rock do grupo alemão Atari Teenage Riot.

Como o cotidiano aparece nas coreografias?

Basicamente, o que fizemos foi traduzir as cenas cotidianas que pesquisamos e criamos para a linguagem da dança. Partimos da noção de "partitura corporal", por isso, existe uma história por trás de cada movimento.

Em quanto tempo o espetáculo foi criado?

O conceito já existia há um bom tempo, mas de uns 7 meses para cá foi que realmente estivemos trabalhando na pesquisa e no processo de montagem.

Por que Sem Companhia de Dança?

Temos um ambiente criativo em que cada um pode participar ativamente do processo, onde as escolhas são feitas, podemos dizer assim, de uma maneira meio anárquica. Nosso trabalho tem como base a cooperação, rejeitamos rótulos e optamos pela liberdade de criação. Cada um dança o que quer, não fazemos seleção de elenco e todo mundo faz de tudo. O artista tem oportunidade de atuar em todas as áreas de uma produção.

Quais são as vantagens de trabalhar assim?

O espetáculo é montado de forma independente, não sai da cabeça de uma só pessoa e por isso não depende exclusivamente dela para acontecer. Ganhamos também em método, organização, aprendizado e disciplina. Temos liberdade para explorar e desenvolver nossas capacidades. Cada um traz sua bagagem e tudo isso nos traz como riqueza a variedade. O Sem Companhia de Dança alimenta a alma do artista. Fazemos pela paixão por um trabalho, pelo prazer de fazer e descobrir.

Qual a formação dos membros do grupo?

O elenco-criador do Sem Companhia de Dança reúne dançarinos de origens e formações bastante diferentes, como as Escolas de Dança da UFBA e da FUNCEB, a Cia. de Dança do SESC de Petrolina e o Curso Técnico em Balé Contemporâneo e Teatro. Já temos quatro trabalhos iniciados e Cafezinho é o primeiro a ser fechado.

+ info:
sex/sab
19h
r$5

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