Da Ponta da Língua à Ponta do Pé
é encenado para adultos em Triunfo



Dançarinos aproveitam uma folguinha entre as apresentações

Em Triunfo, o musical infanto-juvenil Da Ponta da Língua à Ponta do Pé foi pela primeira vez encenado exclusivamente para adultos. A apresentação começou às 22h, no Teatro SESC Triunfo e a platéia foi basicamente constituída por empresários. É que, na cidade, se realizava uma convenção da empresa Tupan, grande distribuidora de materiais de construção no interior de Pernambuco e da Bahia. O resultado foi além do esperado e a platéia recebeu carinhosamente o grupo baiano. Mais tarde, Marcelo Francisco, coordenador de cultura do SESC Triunfo, nos escreveu uma carta (que postamos abaixo na íntegra) detalhando as impressões que o Viladança deixou na cidade.





DA PONTA DA ALMA AO CENTRO DO CORAÇÃO!

O Projeto Palco Giratório é um verdadeiro incentivador no que concerne à Cultura e sua Pluralidade, tão batalhada por grupos e artistas no país nos últimos anos. Digo isto pelo fato de todos os interiores, e não só as capitais poderem usufruir de grandes encenações, propostas e debates questionadores da arte como um todo, bem como de cada espetáculo mais particularmente. Apesar dos contratempos e correrias e adaptações e tantos outros "es"... As cortinas sempre se abrem e deixam de algum modo uma marca naqueles que acompanham e trabalham em prol de um projeto grandioso como esse.

Nessa 3ª Etapa do Projeto em sua versão 2006, a cidade de Triunfo recebeu a Cia Viladança, da Bahia. O espetáculo previsto, na verdade, era José Ulisses da Silva, que devido a capacidade do nosso espaço não foi possível acontecer. Foi decidido então que o mais adequado seria o musical: Da Ponta Da Língua À Ponta Do Pé. O nosso receio era que o público pudesse não simpatizar com esse estilo já que se tratava de um texto infanto-juvenil. Porém a diretora (e uma das autoras) Cristina Castro falou: "Pode ser que a platéia goste, pois é uma viagem a quando éramos crianças". Isso me aliviou bastante, como se ela tivesse dito: - Tenha calma, sei o que estou fazendo! - E confio em pessoas que mostram sensibilidade.

Diante de meus olhos vejo uma Companhia toda empenhada em fazer valer a pena! O espetáculo que seria as 21h, tinha apenas trinta minutos para organizar cenário, luz e todos as pendências necessárias para a realização do musical. Como no Brasil, atraso é bem comum, não fugimos à regra, principalmente porque não havia como "se virar nesses trinta!" quando se tem de transformar um Auditório num Teatro! E foi isso que aconteceu. O mais interessante é que ficou diferente, mas bonito de se ver. E aquela espera foi sendo sanada pela leveza e simplicidade que o musical começava a mostrar à platéia, tão ansiosa e aguçada pela arte.

Pouco antes, comentei que confiava em pessoas de sensibilidade. Essa é a principal característica do espetáculo. O perfil do público, quase cem por cento adulto, parecia ter regressado décadas e ali estavam se deliciando com as sutilezas da encenação. Da Ponta, como o próprio elenco chama, não é só um projeto de cunho educacional; é claro que afirma com convicção a História da Dança, mas também coloca em questionamento o quanto é importante observar, sentir, aprender e praticar arte. O personagem do Zé é um reflexo de como nós arte educadores precisamos trabalhar os nossos alunos, nossa platéia em formação, em âmbito de SESC, o nosso modo sensível de ver e agir. É divertido, mas ao mesmo tempo é interrogador! Será que o Zé não terminou gostando também da Dança, ou ficou interessado só na Isadora? A comédia-romântica que costura a encenação foi um modo inteligente de tratar um assunto tão pouco explorado pelos grupos como é o caso da História da Dança. Certamente, uma criança, ou adulto mesmo que assista, falo por mim, terá seu conceito mais aprimorado sobre essa modalidade artística, e quem sabe até um interesse mais aguçado em praticá-la.

Quando intitulei esse microtexto "DA PONTA DA ALMA AO CENTRO DO CORAÇÃO" queria simplesmente, dizer que a Cia Viladança mostrou um trabalho feito de alma e que conseguiu tocar os corações mais frios (não só pelo clima) presentes aqui em Triunfo. Espero que continuem aquecendo cada vez mais órgãos como estes que muitas vezes carecem de arte e cultura e precisam urgentemente serem tocados antes que a falta de "comida, diversão e ballet" termine por isolar os indivíduos. O coração precisa de várias outras Vilasdança para continuar esse processo universal de democratização cultural A arte aproxima, une e aquece Da Ponta Da Língua A Ponta Do Pé.

Afetuosamente,



Marcelo Francisco
Coordenador de Cultura - SESC Triunfo

Triunfo, 24 de agosto de 2006

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