Por que você não é negro?

“Você é negro? Ou, antes disso, o que é ser negro?” É com essa provocação que o Bando de Teatro Olodum volta a cartaz com o seu maior sucesso de público, o Cabaré da RRRRRaça, patrocinado pela Petrobras, em temporada de 22 a 31 de maio no Teatro Vila Velha. Neste cabaré baiano, questões atuais como presença do negro na mídia, identidade racial, religião, abolição da escravatura – 13 de maio, cotas nas universidades, mito do negro como objeto sexual e situações de discriminação no dia-a-dia, entre outras, são abordadas de forma bem humorada e recheadas por números de música ao vivo e dança. Ao final de cada apresentação, um artista convidado se integra ao Bando e canta a última música da noite. Nesta temporada, estarão presentes Mariene de Castro, Juliana Ribeiro, Magary, Pretubom, Graça Onasilê (cantora do Ilê Aiyê) e Manuela Rodrigues.


Não há como passar ileso ao Cabaré da RRRRaça. A todo instante, o público é motivado a refletir sobre o significado da negritude cultivado pela sociedade que, historicamente, lhe atribui valores negativos e pejorativos. A platéia, imersa à atmosfera do espetáculo, é estimulada também a dar depoimentos de como age (ou sofre) no dia-a-dia frente às situações de preconceito ou discriminação enfrentadas pelos afro-descendentes. “Quem discrimina mais: o preto ao branco, o branco ao preto ou o preto ao preto?”, pergunta um dos personagens. Por causa dessa interação, cada dia de espetáculo ganha ares de novidade e se torna atraente para o público pela capacidade de se renovar.


“O que nós percebemos é que nesses anos de apresentação do Cabaré as questões infelizmente continuam as mesmas para os negros na sociedade brasileira, mas já é possível identificar uma mudança na percepção das pessoas com relação aos temas abordados. O interessante e gratificante é que aquela pessoa que assistiu ao espetáculo fica mobilizada de alguma maneira pelo que é apresentado e retorna duas, três, sete vezes, e traz consigo ou indica a amigos e familiares para também ver o que está sendo colocado. São assuntos muito próximos à realidade dela”, explica Chica Carelli, co-diretora do Cabaré.


Não por acaso, o Cabaré é um dos maiores sucessos do teatro baiano e já faz parte de sua história. A peça já foi vista por mais de 37 mil pessoas ao longo de seus 11 anos em cartaz, em mais de 240 apresentações em diversas cidades brasileiras, além de Portugal e Angola. Desde a estréia em 1997, sob direção de Márcio Meirelles, o cabaré baiano, formado por atores exclusivamente negros, transpõe para o palco, de forma bem humorada, escrachada em alguns momentos, diversos dilemas do negro na atualidade, principalmente as práticas preconceituosas cotidianas camufladas pela suposta ‘democracia racial’. “São situações que normalmente se encontram obscuras e não são devidamente discutidas pela sociedade”, explica Chica.


Cabaré da RRRRRaça

22 a 31 de maio às 20h

R$20/R$10

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