Descascando batatas

Hoje, Bruno Machado, meu colega do Núcleo de Comunicação, estava falando sobre Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Pato Fu, história do rock brasileiro, essas coisas. Conversa vai, conversa vem, ele terminou com O Melô do Marinheiro grudado na cabeça.

"...entrei de gaiato no navio - ô! - entrei, entrei, entrei por engano, entrei de gaiato no navio - ê - entrei, entrei, entrei pelo cano..." e depois cantarolava "...conhecer o mundo inteiro sem gastar nenhum tostão...".

Respondi no automático: visão bem romântica de o que acontece com quem é pego de gaiato no navio, né? Lavar convés, descascar batata, até parece. Na verdade não é nada disso. sabe o que acontece? Eles dão na sua cabeça com alguma pesada e te jogam no mar. Aí ninguém nunca vai saber que você esteve ali pra começo de conversa. Sério? Sério.

Como eu sei disso? Bom. Em 2006 fiz uma série de estudos intensivos em imigração ilegal, movimentos migratórios, história da África, do Brasil e da escravidão. Passamos cerca de seis meses estudando um texto de José Mena Abrantes, um angolano, que registrou em texto dramático a história real de três africanos que entraram de gaiatos em um navio. Por um capricho do destino, por muito pouco, bem pouco, não foram assassinados pela tripulação. Ao invés disso, foram isolados em um contêiner marítimo enquanto decidia-se o que se faria dos clandestinos.

Esse estudo era a base de pesquisa para a montagem de um espetáculo que lembro com muitas boas saudades: O CONTÊINER, d'A Outra Companhia de Teatro. Fomos para o Festival de Teatro de Curitiba em 2007. Foi muito legal.

Aí é isso: Bruno cantou, eu lembrei e o Contêiner reestréia hoje - já sem mim, no Vila Velha. Grande espetáculo. Apresenta-se mais uma vez amanhã, dia 15, às 20h, e depois faz as terças de agosto. Quem não viu, tá perdendo.

Camilo Fróes

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