ESTRÉIA!!! Uma Vez, Nada Mais



Uma comédia muda que vai dar o que falar. Uma teia de ações que se desenvolve em torno de delicadas histórias de amor. De um lado, um amor não correspondido. Transitando entre a fantasia romântica e a palpitante realidade dos seres apaixonados, o espetáculo, inspirado no cinema-mudo e permeado por programas de rádio das primeiras décadas do século passado, é um convite para um passeio por uma época de romantismo e sonho.

Uma vez, nada mais
14 a 30 (sexta a domingo) sempre às 20h
r$20/ r$10

Comentários

  1. UMA VEZ, NADA MAIS



    O espetáculo clownesco (?) inspirado na estética do cinema mudo, com muito do cinema chapliniano, nos arrebata pela coragem das atrizes em cena. sustentando uma construção física, dificílima, que nos remete ao cinema mudo, com suas imagens que se contrapõem à “câmera lenta” e à “câmera rápida”, com movimentos cortados, com gestos e expressões fisionômicas características desse gênero, as atrizes experientes, Aicha Marques e Maria Menezes, dão conta do recado com graça e leveza.
    A atriz Aicha Marques nos impressiona pela limpeza dos movimentos e expressões bem construídas. Vendo-a, é como se víssemos uma atriz de Luzes da Ribalta, de Chaplin, com todos os encantos de uma interpretação segura, resultado de muita pesquisa. Como estamos na Bahia, o espetáculo tem algumas pitadas de baianidade na personagem de Maria Menezes, que constrói uma personagem mais sinuosa, em um lugar mais seguro para ela, que tenta de forma moderada, trazer para o palco a sua veia cômica, brincando com a sensualidade, contrapondo assim, com Aicha (mais retilínea) que em muitos momentos serve de augusto para que o branco se sobressaia, como em um espetáculo clownesco. (intencional?) Os clowns, personagens antigos do teatro e do circo, são caricaturas vivas do ser humano. Há diferentes tipos de clowns. Uma distinção clássica refere-se a dois tipos: o branco e o augusto. O clown augusto é o palhaço coadjuvante. É o bobão, o ingênuo, manipulado pelo clown branco, que encarna o “chefe”, o sabe-tudo.
    Romantismo e nostalgia preenchem o palco, nos transportando para uma época que já se vai longe. Época do rádio, veículo de comunicação importantíssimo para a MPB, que revelava os seus talentos nos grandes festivais da época. O rádio era como a televisão de hoje. Famílias se reuniam para escutar a rádio-novela, tão bem explorada nesse espetáculo.
    Sintonizado quase sempre na Rádio Nacional, o rádio que aparece no espetáculo, funciona como um terceiro personagem, que dialoga através de suas canções datadas, de simpatias e propagandas que ouvidas, hoje, beiram o cômico e o ingênuo. Em um momento de interação com o rádio, a personagem de Aicha que está mal, busca ali, um consolo, procurando uma música que lhe tranqüilize: passando de faixa em faixa, só consegue ouvir música de fossa, que fizeram muito sucesso, a exemplo de “Meu Mundo Caiu”, de Maysa, que acalentava os corações das ouvintes dessa época. Grande momento no espetáculo.
    O cenário de Zuarte Júnior, simples, mas funcional, que além dos objetos reais que aparecem em cena, a exemplo do rádio, do manequim e dos aparelhos telefônicos,
    poderia-se ter recorrido também ao uso de móveis reais, reforçando a idéia de locação realista de um cinema mudo, complementando a estética da encenação.
    A diretora Hebe Alves consegue fazer de um argumento simples, um belo espetáculo, que pode vir a ser mais ousado e vigoroso no seu ritmo e rico na sua dinâmica de situações dentro do jogo cênico.
    Independente do meu olhar, o espetáculo é lindo, e vale muito à pena assisti-lo.


    Ivan Santtana

    Ator

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